Em busca da verdade
Sem falsas notícias
Professor da UFPel desenvolve ferramenta para identificar fake news; objetivo é disponibilizá-la até outubro
Jô Folha -
Nos dias atuais as fake news, ou notícias falsas, dão a tônica em inúmeras discussões. Desde a eleição de Donald Trump e o Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, o tema ganhou mais espaço nos debates e tornou-se um motivo de preocupação para as eleições de 2018 no Brasil.
Partindo desse ponto, o jornalista e professor da faculdade de Design Digital, Gilberto Consoni, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) está projetando um programa para combater a disseminação de notícias sem veracidade. A preocupação com a seleção de itens a partir de algoritmos e a inspiração nos casos recentes influenciaram o docente.
Utilizando o sistema do big data (um grande conjunto de dados armazenados), o programa utilizará o mesmo formato da identificação de spams para detectar as notícias falsas. Segundo Consoni, a ferramenta buscará textos e formará uma base de notícias com os textos verdadeiros e os falsos. A preocupação com posicionamentos também será cuidada. “Fake news não é viés, é mentira”, lembra o professor, ao ressaltar a importância de não avaliar pontos de vista como verdadeiros ou falsos.
A partir da criação da base de dados com textos de variadas fontes com a mesma temática, um padrão de informações será gerado, criando graus de confiabilidade no material, sem apontar cegamente o que é verdade ou mentira. “Jornalismo não é binário”, resume o professor, ao lembrar da possibilidade de diferentes versões para a mesma história.
Prática
Em parceria com um bolsista da UFPel, contratado através do Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), será criado um site onde o endereço da notícia é colocado para perceber o grau de confiabilidade que será criado. O professor lembra da existência de outros, mas todos em línguas estrangeiras, sem contemplar o português.
O segundo passo seria criar uma extensão para acessar através da rede social Facebook, identificando grau de confiabilidade de perfis, em especial nos períodos eleitorais. “As pessoas compartilham sem clicar, avaliando só pelo título”, lamenta Consoni. A ideia é criar uma cultura de cuidado com o comportamento on-line, fazendo o leitor também verificar fontes e buscar fontes confiáveis para ter mais cuidado na hora de compartilhar informações. “O usuário aprende a se comportar”, brinca.
Influência em decisões
A honestidade com o leitor por parte dos veículos de notícias é um dos objetivos do projeto. A falta de dados quanto à atual influência das notícias falsas faz o professor ser cauteloso ao mencionar eleições passadas. “Seria irresponsável dizer que influenciou na eleição de Trump ou no Brexit. Mas seria igualmente irresponsável afirmar que não influenciou”, pontua.
Na prática, o professor projeta pôr em prática a ideia até as eleições deste ano. A primeira fase de testes deverá ocorrer em agosto. O cronograma conta ainda com testes sem influências humanas e possíveis cuidados com a parte ética, podendo vir a passar pelo comitê da universidade. O código já está em desenvolvimento, com cerca de 50% do algoritmo finalizado.
Cuidados em 2018
O tema das notícias falsas entrou em discussão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) visando o próximo pleito. No último dia 18, o tribunal aprovou por unanimidade as resoluções para regular o processo eleitoral. Por ser a primeira eleição em que propagandas eleitorais poderão ser feitas pela internet, o texto impôs limites e regrou pontos como a remoção de conteúdos, postagens anônimas e impulsionamento de publicações apenas para perfis oficiais da campanha.
Novos debates deverão ser feitos pelo TSE em um futuro próximo, sendo o dia 5 de março a data final para a publicação das regras eleitorais. “Vamos criar uma estrutura preventiva da fake news, que inclui medidas de constrição de bens, medidas de restrição de eventual liberdade daqueles que estiverem em flagrante delito, se preparando pra cometer esse tipo de estratégia deletéria”, disse o ministro Luiz Fux.
No congresso, o tema também já é debatido. Um projeto do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) prevê a responsabilização de provedores de conteúdo nas redes sociais em casos de divulgação de informações falsas, ilegais ou prejudicialmente incompletas. Em outro projeto de lei, o deputado defende a criminalização de “divulgar ou compartilhar, por qualquer meio, na rede mundial de computadores, informação falsa ou prejudicialmente incompleta em detrimento de pessoa física ou jurídica”.
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